Este livro, que contém cerca de oitenta textos em prosa (a maior parte deles ocupa menos de uma página), tem uma história que é contada numa nota introdutória assinada por Mafalda (só e apenas este nome próprio), que começa por se identificar como filha do autor do livro. E a seguir explica como o pai, que se definia como um "euro-esquerdista liberal (psicótico-libertino)", nunca publicou nada mas deixou estes textos prontos a serem editados. A nota é uma homenagem da filha ao pai, mas os textos valem independentemente da circunstância lutuosa que ditou a sua publicação. E surgem como algo raro na literatura portuguesa pornográficos, imorais, excessivos, da família de uma literatura mal comportada, imprópria para exibir em salões e lugares públicos. Eis um exemplo. Tenho vontade de chicote e corro pela escada acima. Ao ver-me entrar, percebe e as mamas tremem-lhe dentro da camisola preta Dispo-me e estendo-lhe um dos cintos. Crispo os músculos e aguento. Alternadamente, arreamos um no outro. A pele dela já cheira, atiro o focinho, farejo-a debaixo dos braços e entre as pernas. Enfio-lhe na boca deitado em cima da cabeça dela, a foder-lhe a cara, e depois passo para o cu e aí venho-me. A excitação foi nervosa e deliberada, como quando penso sexo! e me levanto de um salto na frente do espelho e abro o cu com as mãos e profiro litanias obscenas." O sexo é, na verdade, a obsessão que dita estes textos. Mas há também na maior parte deles uma elaboração de outro nível, que deixa perceber como o autor manipula outros códigos e referências literárias, mas sempre no interior de uma literatura que se pretende como experiência dos limites.
António Guerreiro
Foi no sábado, 20 de Fevereiro de 2010 no Bar "Anos 60", o lançamento do livro
"Histórias de Amor e de Obsessão"
apresentado por José Pinto de Sá e Fernando Pinto do Amaral.
Texto do José Pinto de Sá para ler ou download.
Texto do Carlos Gouveia Melo para ler ou download.